Espaço e tempo geográfico
A técnica é dada pela relação entre o homem e o meio, no caso, a natureza. As técnicas constituem um conjunto de meios instrumentais e sociais, dos quais o ser – humano utiliza-se para diversas situações de sua vida. Milton Santos ressalta que, através das técnicas, o homem realiza a sua vida, produz e, ao mesmo tempo cria espaço, no entanto, essa maneira de ver a técnica não é inteiramente explorada. Pesquisadores como Adam Schaff, Pinch & Bijker, Denis-Clair Lambert, Barre e Papon, entre outros, não demonstraram interesse em desenvolver questões, a fundo, sobre a relação entre a técnica e o espaço, como se a técnica não fizesse parte do território.
O geógrafo Philip Wagner (1960) foi quem se preocupou, de forma considerável, com as questões entre geografia e tecnologia, entretanto, Vidal de la Blache e Lucien Febvre foram os considerados pioneiros da produção de uma geografia vinculada às técnicas.
Pierre George (1974) faz um comparativo entre a cidade atual e a cidade antiga, alegando que, até o século XIX a cidade seria um produto cultural, tornando-se, a partir da data mencionada, um produto técnico. Para Maximilien Sorre, o entendimento da relação entre mudança técnica e mudança geográfica era fundamental. Sugeriu que os estudos geográficos, levassem em conta as técnicas da vida social, as técnicas da energia, as técnicas da conquista do espaço e da vida de relações e as técnicas da produção e da transformação das matérias primas.
Para Simondon (1958, 1989) o espaço é formado por “objetos técnicos concretos” e “objetos abstratos”, ambos distintos. Segundo o autor, quanto mais próximo da natureza o objeto é, mais imperfeito ele será; quanto mais tecnicizado, mais perfeito será; logo, o “objeto técnico concreto” acaba por ser mais perfeito que a própria natureza. Simondon considera que “o objeto técnico é um ponto de encontro entre dois meios, o meio técnico e o meio geográfico”.
Deve-se levar em consideração a propagação desigual das técnicas. Um determinado espaço pode possuir diferentes propagações de elementos técnicos, pertencentes a diversas épocas. Sistemas técnicos combinados de diferentes idades vão influenciar nas formas de vida possíveis de uma determinada área. A técnica é um elemento fundamental para a explicação da sociedade e dos lugares. O uso dos objetos, através do tempo, mostra a história de um lugar e fora dele e a contínua mudança sofrida ao longo do tempo.
As técnicas podem ser consideradas como medidas do tempo: tempo de trabalho, circulação, divisão territorial e tempo de cooperação. O espaço do trabalho contém técnicas que determinam um tempo. Esse espaço também se impõe através das condições que ele oferece, como exemplo: lazer, política, circulação, produção, residência, comunicação, entre outros. A técnica é um dado essencial do espaço e do tempo operacionais; e do espaço e do tempo percebidos. Marx “o que distingue as épocas econômicas umas das outras, não é o que se faz, mas como se faz, com que instrumentos de trabalho”.
É possível, através das origens das técnicas, datar uma materialidade artificial, ou seja, identificar a idade de um lugar, no entanto, cada técnica é modificada de acordo com as mudanças dos espaços.
Toda paisagem habitada pelos homens traz a marca de suas técnicas. Gourou
A Natureza Do espaço
Capítulo 1
SANTOS, Milton